Eu hoje completo 29 anos. Nunca tive problemas em explicitar minha idade, e não acho que um dia eu vá ter. Presenciar a cena em que uma mulher mente ou faz questão de esconder sua idade me transforma sempre em uma espécie de testemunha de Jeová, só que na versão feminista. De repente, flagro a mim mesma já quase cedendo ao impulso de discursar a respeito de como devemos, nós mulheres, nos apropriar de nosso envelhecimento, com a irreverência que insistem, diária e sistematicamente, em sufocar em nós. Mas não era esse o ponto em que eu planejava de chegar.
Menos de 48 horas para a chegada do dia em que eu completaria 29 anos, eu recebi a notícia do falecimento da minha avó. Ao comentar o infortúnio com uma conhecida, logo se externou sua confusão: “Sua avó não morreu há pouco tempo?” Minha outra avó, pai do meu pai, faleceu em agosto. Desta vez, perdi a mãe da minha mãe. Sou, agora, oficialmente, uma pessoa sem avós vivos. Já não há quem me conte da infância de meus pais, ou a quem eu possa observar para entender de onde vem o que meus pais são.
Disse a mim mesma que sequer sairia para um jantar, afinal, veja como é a vida, sequer nos deixa saborear um momento de felicidade e já se apressa em nos retirar toda a leveza. No entanto, bastou que meu marido acordasse, no domingo pela manhã, disposto a nos preparar café, anunciando que aquela seria uma refeição em família — ele, o cachorro e eu — para que de repente eu me pegasse pensando, vamos, sim, sair para jantar, vamos cantar os parabéns, afinal, veja como é a vida, retira-nos a leveza, pisoteia-nos a alegria, nos relembra, com teimosia, da fugacidade de tudo o que nos é próximo, e então, no segundo seguinte, presenteia-nos com a felicidade de um amor que nos sorri e de um cachorro que nos lambe os pés. Aconcheguem-se, meus 29 anos. É, de tantos modos, um prazer recebê-los.